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Não brinquem com o Acordo Ortográfico!
sábado, 25 fevereiro 2017

Não brinquem com o Acordo Ortográfico!

Viagens à volta do Acordo Ortográfico de 1990

No seu plano mensal de tarefas, há sempre muitos trabalhos que estão associados à aplicação das regras ortográficas. Pára, salta de assunto, e sempre volta ao Acordo Ortográfico. Hoje tinha na sua agenda a seguinte tarefa: testar CONVERSORES. Entenda-se: ferramentas que convertem o conteúdo de ficheiros de texto para a grafia imposta pelo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (AO90).

Se estudar a ortografia poderia provocar alguma frustração nos tempos que correm, depois de andar às voltas com os dois conversores (concretamente, 1 hora e 35 minutos), sim, é caso para dizer que sente uma leve frustração.

Pára!

Lê um pouco de Garrett para descontrair. Abre o capítulo I de Viagens na Minha Terra e… pronuncia-se.

O primeiro capítulo desta obra tem 1879 palavras e há 13 que sofrem alteração com o AO90.

Eis os casos:

  • Nomes de estações do ano: inverno (1), estio (2),
  • Nomes de meses do ano: julho (1)
  • Formas do verbo haver seguidas da preposição de: hei de (1), há de (5), hão de (1)
  • Grafias com sequências consonânticas: exatamente (1), reação (1)

A análise está feita. Chegou a hora de testar as ferramentas.

Primeiro teste: Conversor de Ficheiros da Porto Editora (disponível em https://www.portoeditora.pt/lingua-portuguesa/conversor-acordo-ortografico#conversor-ficheiros). Os documentos foram submetidos com sucesso e a mensagem eletrónica para download, que indica o número de palavras alteradas, é recebida. No entanto, e talvez por motivos técnicos, não é possível abrir os ficheiros descarregados. Verificou as versões do ficheiro, alterou o nome do mesmo, cortou texto. Fez várias tentativas («O Word não consegue abrir o ficheiro»).

Mensagem recebida pelos serviços da Porto Editora: Foram convertidas 13 palavras de um total de 1877 palavras analisadas. As alterações ortográficas efetuadas estão assinaladas através de comentários criados no documento convertido.

Segundo teste: Lince – conversor para a nova grafia (disponível em http://www.portaldalinguaportuguesa.org/lince.php). Instalou a aplicação de novo. Certificou-se de que tinha a última versão (1.2.12), em conformidade com um aviso que surge. Adicionou o ficheiro a converter. Fez várias tentativas («Estado: Ocorreu um erro de sistema»).

Azar? Talvez. Ou como diria Garrett: «destino em hora aziaga»… Talvez. Será que alguém mais pode testar? Um apelo, um pedido.

Assim se ficou pelo primeiro capítulo destas viagens. Talvez daqui a uns meses, valha a pena pôr na agenda novamente: testar CONVERSORES. Possamos avançar com mais alguns capítulos. Ainda estamos no Terreiro do Paço, há mais para descobrir, há mais para saber.

Sim, está mesmo na altura de «dizermos que preferimos refletir sem brincar, porque há mais de duzentos e cinquenta milhões de utilizadores da Língua Portuguesa»*!

Ouvimos que tudo está perfeito. Tudo corre às mil maravilhas. Quem dera que assim fosse!

Ana Salgado
Lisboa, 27 de fevereiro de 2017

*Em resposta ao último parágrafo da notícia publicada no «Jornal de Notícias», em 29 de janeiro de 2017: http://www.jn.pt/artes/dossiers/portugues-atual/interior/academia-de-ciencias-de-lisboa-brinca-com-o-acordo-ortografico-5634696.html#ixzz4ZeiQSReX

Comentários (2)

  • Celso Augusto Nunes da Conceição

    Celso Augusto Nunes da Conceição

    27 fevereiro 2017 às 19:58 |
    Como é fácil "falaciar" sobre assuntos que não dominam. Defensores do AO/90 ou defensores dos que "criaram o monstro linguístico" certamente não sabem a diferença do que é ciência e do que é política. Sugiro discutirem o assunto com quem sabe do que se trata ou cairão em descrédito por acusarem de "brincadeira" a quem realmente está fazendo trabalho sério, a manter a diversidade linguístico-cultural de cada país lusófono. Por favor, estudem a diferença do que é Língua e Idioma, este que é dinâmico e altera-se a todo momento, ao contrário de Língua, que é a estrutura que subjaz aos idiomas. Bom estudo e reflexão!
  • JC

    JC

    28 fevereiro 2017 às 05:49 |
    Não se trata de uma notícia do JN, mas de um artigo de opinião da inenarrável Lúcia Vaz Pedro. São coisas bem diferentes.

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