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O novo Dicionário da Academia
sábado, 12 março 2016

O novo Dicionário da Academia

No cenário da lexicografia portuguesa, importa desenvolver um registo lexicográfico que venha colmatar uma lacuna existente. Foram produzidas, nos últimos anos, algumas obras de grande relevo, nomeadamente o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, em 2001, a nova edição da versão portuguesa do Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, em 2015, e o Grande Dicionário da Língua Portuguesa, em 2004/2009 da Porto Editora. O maior desafio, neste momento, é o de constituir um acervo lexicográfico que seja expressão do português atual e disponibilizar essa obra dicionarística em linha para possibilitar um uso mais generalizado e com maior alcance.

A melhor base para desenvolver esta nova obra é o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, publicado pela Academia das Ciências em 2001, com o apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian, sob a responsabilidade comercial da Editorial Verbo. Tendo em conta as três obras anteriormente referidas, esta é a que mais se coaduna com um projeto sólido e coerente. Acrescente-se ainda que o facto de a edição anterior do Dicionário da Academia se encontrar esgotada torna a futura publicação mais urgente.

A elaboração de um novo Dicionário da Academia pretende dar continuidade à edição anterior, alargando e renovando o conceito do primeiro projeto dos seguintes modos: por um lado, ampliando o seu leque de vocábulos com uma ampla cobertura do léxico geral e científico atuais, dos regionalismos e dos vocábulos de uso generalizado e corrente nos diversos países e regiões lusófonos; por outro lado, levando a cabo alterações de critérios em consonância com os princípios lexicográficos mais atuais; por fim, pela disponibilização do conteúdo em plataforma digital, à semelhança do que acontece com os produtos lexicográficos de instituições congéneres de outros países.

As tarefas para preparação de um novo dicionário já estão em curso. A Classe de Letras da ACL, por intermédio do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa (ILLLP), presidido pelo académico efetivo Professor Doutor Artur Anselmo, atual presidente da ACL, constituiu uma Comissão Lexicográfica, que tenho a honra de coordenar, e a que pertencem vários académicos de ambas as classes. Todos os académicos foram contactados, tendo sido solicitado que cada um, na sua área de especialidade, habilitasse a Comissão com informações sobre lacunas da edição anterior e propostas de redação ou alteração dos textos que acompanham as entradas. Das numerosas reuniões efetuadas no ILLLP, vão resultando algumas propostas de atualização e melhoria do dicionário das quais brota o presente projeto.

O ILLLP assinou um protocolo com a Universidade do Minho para construção de uma nova e moderna base de dados que irá albergar a versão digital do dicionário. A importância que as referidas entidades emprestam à promoção das expressões científicas e educacionais e a procura de uma maximização dos recursos de que dispõem estão na génese do presente protocolo. A ACL conta com a minha pessoa enquanto consultora e com a equipa dedicada ao Processamento de Linguagem Natural do Departamento de Informática desta mesma Universidade, coordenada pelos Professores Doutores Alberto Simões e José João Almeida, elementos com vasta experiência em gestão de dicionários, tendo ainda como consultor o Professor Doutor Álvaro Iriarte Sanromán do Instituto de Letras e Ciências Humanas. Este é um passo que se considera determinante para uma revisão eficiente dos conteúdos dos artigos dicionarísticos.

Embora seja nossa intenção aproveitar os legados de todos aqueles que nos antecederam na Comissão, a evolução de conceitos e métodos no domínio da Lexicografia obrigaram a um novo planeamento e levaram à adoção de normas diferentes na organização dos artigos.

Trata-se, essencialmente, de um dicionário da língua portuguesa moderna e usual, embora, atendendo à inexistência dum dicionário da língua literária clássica, deva cumulativamente servir para a boa compreensão das obras mais relevantes da literatura clássica portuguesa.

A revisão incidirá sobre os seguintes pontos: a macroestrutura do dicionário que se organiza em torno de três partes fundamentais, ou seja, as páginas iniciais, a nomenclatura e as páginas finais (anexos); e a microestrutura do dicionário, isto é, o conjunto ordenado de todas as informações, de natureza diversa, no interior do verbete.

De forma a fixar uma nomenclatura rigorosa e abrangente do português contemporâneo, o confronto da lista de entradas da edição anterior com a do Vocabulário Ortográfico Atualizado da Língua Portuguesa, também da responsabilidade da ACL, foi levado a cabo para obtenção de uma listagem final de novos verbetes e de eventuais correções em ambas nomenclaturas.

Para o estabelecimento definitivo da nomenclatura, será necessário fixar algumas grafias que geralmente suscitam dúvidas e deixar registo da opção e decisão final. Para atingir esse fim, ao longo da revisão da obra, estão a ser emitidos pareceres sobre grafias duvidosas. Assim que o trabalho de análise da nomenclatura se encontre finalizado, serão entregues à Comissão Lexicográfica duas listagens: uma, com entradas a excluir (palavras desnecessárias ou com um índice de frequência muito baixo; palavras pertencentes a um discurso muito especializado) e, outra, com palavras provindas do Vocabulário, contribuições dos académicos após revisão da sua área temática, outros contributos).

É oportuno referir que o carácter prescritivo da lexicografia de outrora parece definitivamente ter dado lugar a uma tendência verdadeiramente descritiva que evidencia o uso, em contexto real, das unidades lexicais. Nesta linha, é de suma importância proceder a uma definição rigorosa dos critérios que orientam a produção lexicográfica, dedicando especial atenção aos usos impróprios ou indevidos, à introdução de marcas de uso.

Este é o nosso novo projeto, uma obra lexicográfica académica que se pretende constituir num dicionário de referência no universo da lusofonia e diferenciado no panorama da dicionarística portuguesa, com vista à representação global da língua portuguesa.

Ana Salgado
Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa, Academia das Ciências de Lisboa
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Comentários (1)

  • Paulo Mario Beserra de Araujo

    Paulo Mario Beserra de Araujo

    25 setembro 2020 às 15:28 |
    Meus parabéns à ACL e à Sra., em especial, por esse trabalho que se faz necessário emprol da lexicografia lusófona.
    Desejo sucesso na empreitada.
    De um lexicófilo.

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